"Phillippe Perrenoud – Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações.
Três exemplos:
- Saber orientar-se numa cidade desconhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar-se, pedir informações ou conselhos; e os seguintes saberes: ter noção de escala, elementos da topografia ou referências geográficas.
- Saber curar uma criança doente mobiliza as capacidades de observar sinais fisiológicos, medir a temperatura, administrar um medicamento; e os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas, primeiros socorros, terapias, os riscos, os remédios, os serviços médicos e farmacêuticos.
- Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber se informar, preencher a cédula; e os seguintes saberes: instituições políticas, processo de eleição, candidatos, partidos, programas políticos, políticas democráticas etc.
Esses são exemplos banais. Outras competências estão ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais. Os seres humanos não vivem todos as mesmas situações. Eles desenvolvem competências adaptadas a seu mundo. A selva das cidades exige competências diferentes da floresta virgem, os pobres têm problemas diferentes dos ricos para resolver. Algumas competências desenvolvem-se em grande parte na escola. Outras não.
(...)
Quando se faz referência à vida, apresenta-se um lado muito global: aprende-se para se tornar um cidadão, para se ter sucesso na vida, ter um bom trabalho, cuidar da saúde."
(...)
"A transferência e a mobilização das capacidades e dos conhecimentos não caem do céu. É preciso trabalhá-las e treiná-las. Isso exige tempo, etapas didácticas e situações apropriadas."
"E o que é preciso fazer?
- saber identificar, avaliar e valorizar as suas possibilidades, os seus direitos, os seus limites e as suas necessidades;
- saber formar e conduzir projectos e desenvolver estratégias, individualmente ou em grupo;
- saber analisar situações, relações e campos de força de forma sistémica;
- saber cooperar, agir em sinergia, participar de uma actividade colectiva e partilhar liderança;
- saber construir e estimular organizações e sistemas de acção colectiva do tipo democrático;
- saber gerir e superar conflitos;
- saber conviver com regras, servir-se delas e elaborá-las;
- saber construir normas negociadas de convivência que superem diferenças culturais.
Em cada uma dessas grandes categorias, deveria ainda especificar concretamente grupos de situações. Por exemplo: saber desenvolver estratégias para manter o emprego em situações de reestruturação de uma empresa...."
in: http://www.dgidc.min-edu.pt/revista/revista4/Entrevista%20com%20Philippe%20Perrenoud.htm
Entrevista “A arte de Construir Competências”
Phillippe Perrenoud, Universidade de Genebra
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